Nos dias atuais, os distúrbios alimentares, que
compreendem a anorexia, a bulimia e o transtorno do comer compulsivo, estão
alcançando níveis epidêmicos e são responsáveis por grande número de mortes
entre todos os distúrbios psíquicos conhecidos. São várias as causas dos
distúrbios alimentares, incluindo fatores genéticos, ambientais e
comportamentais. A pressão de uma sociedade cada vez mais competitiva, o
estresse e experiências de vida traumáticas, associadas ao culto do corpo
perfeito têm levado muita gente, a maioria mulheres, a maltratar seu organismo,
seja passando fome ou comendo em excesso. Por isso hoje, vamos tratar deste
assunto; especificamente, falaremos de anorexia e bulimia, destacando os
efeitos causados no trato gastrintestinal (TGI) e como os exercícios físicos
podem ajudar no tratamento das pessoas que sofrem desses distúrbios.
Na Anorexia Nervosa (AN) os casos se apresentam com desnutrição grave, com perda de peso superior a 15%. Na adolescência, dado o rápido crescimento dessa faixa etária, só o fato de não alcançar o peso correspondente a idade já caracteriza um sinal de alerta. Outros critérios, mesmo que não acompanhados de desnutrição importante, podem ser um sinal de Anorexia Nervosa: medo primário de engordar mesmo que com peso inferior ao ideal para a idade e estatura e distorção da imagem corporal com preocupação direcionada para uma parte do corpo, totalmente infundada. O paciente geralmente limita suas refeições a alimentos pouco calóricos e em quantidades insignificantes e nega sentir fome. No decorrer da doença isola-se do convívio social, limitando suas atividades à escola, casa e exercícios físicos.
Na Bulimia Nervosa (BN) estima-se que 50% dos casos ocorra antes dos 18 anos, porém como seu diagnóstico é muito difícil explica-se assim sua incidência "maior" acima dessa idade. Uma única publicação estudando adolescentes, mostrou que a média de idade do início da doença foi de 16.3 anos, variando de 13 a 19 anos. Sua principal característica são os episódios de "binge-eating" ou "comer-compulsivo". Esse comportamento é descrito como uma ingestão de alimentos muito calóricos, de forma compulsiva, num espaço de tempo inferior a duas horas, até o limite da capacidade gástrica, chegando a ingerir até 20.000 cal durante um episódio. Após isso surge um sentimento de culpa que tenta ser compensado com horas de exercício físico exaustivo ou, literalmente, por livrar-se da comida. Em 30% dos casos há provocação de vômitos. Alguns usam diuréticos ou laxativos e uma porcentagem pequena usa medicação indicada para hipotireoidismo. Esses episódios ocorrem com frequência de até 3 vezes por semana ao longo de, no mínimo, 3 meses. São pacientes sujeitos a grande variação de peso, com ganhos e perdas frequentes. Outros comportamentos impulsivos podem estar presentes nesses pacientes como: roubar, gastar desmesuradamente, abuso de drogas, auto-mutilação e promiscuidade. História de abuso sexual pode estar presente em até 50% dos casos .
Na Anorexia Nervosa, existem aqueles pacientes que esporadicamente usam algum tipo de medicação para perder peso; na Bulimia Nervosa, há aqueles pacientes que raramente usam medicação para eliminar o alimento, mas que submetem-se a sessões exaustivas de exercícios ou períodos de jejum.
Essas doenças podem trazer diversos problemas físicos e psicológicos. Vamos abordar aqui as complicações no TGI.
Sintomas
do trato gastrointestinal são frequentes, embora as frequências das
manifestações variem entre os estudos. Comparando tais sintomas entre pacientes
com AN e BN verificou-se os seguintes resultados no grupo com AN: síndrome do
intestino irritável (55,6%), queixa de pirose (42,2%), dor abdominal (31,1%),
constipação (24,4%) e disfunção ano-retal (31,1%)145(B). Pacientes com AN que
buscaram um serviço especializado em gastroenterologia apresentaram prevalência
dos sintomas um pouco diferente: constipação (60%), dor abdominal (35%),
diarreia (25%) e vômitos (20%).
De
forma adicional, estudos demonstram que o trânsito gastrointestinal e o
enchimento gástrico encontram-se lentos nesses pacientes, quando
comparados a indivíduos normais. Com relação a complicações de maior
gravidade, como dilatação gástrica aguda, ocorrem raramente na evolução desses
casos, geralmente relacionadas a AN subtipo purgativo/compulsivo (bulimia).
A doença celíaca, uma inflamação desencadeada por peptídeos do trigo ou de
grãos similares, causa uma reação imune intestinal levando a uma intolerância
permanente ao glúten, caracterizada por atrofia total ou subtotal da mucosa do
intestino delgado proximal e consequente má absorção de alimentos, em
indivíduos geneticamente suscetíveis. Redução de peso, diarreia e sintomas
depressivos podem ser sintomas que se confundem com AN.
Já o uso excessivo de diuréticos pode
causar uma queda do nível de potássio no sangue, conhecida como hipocalemia
aguda, podendo causar cãibras, tonturas, arritmia cardíaca, desidratação,
entre outros sintomas. Além dos medicamentos para diminuir a retenção de
líquidos, algumas pessoas também fazem uso regular de laxantes. Esses remédios,
por provocarem a evacuação, também são usados por quem quer emagrecer, mas sua
eficácia não é comprovada para essa finalidade. Assim como os diuréticos,
os laxantes, em excesso, fazem mal. Se forem utilizados de forma abusiva, eles
podem deixar o intestino preguiçoso, e causar dependência. Em casos mais
sérios, o paciente pode desenvolver uma colite, ou a síndrome do intestino
irritável.
Para os pacientes com transtorno alimentar, a atividade física atua
principalmente no aspecto psicológico, melhorando a autoestima e autoimagem. O
programa de exercícios deve englobar flexibilidade, força, postura, atividades
em grupo e exercícios, preferencialmente aeróbicos, de intensidade moderada. As
mais recomendadas são: caminhada, hidroginástica, bicicleta, natação e pilates.
Em pacientes com
anorexia nervosa, o principal objetivo é a recuperação do peso corporal, por
isso, atividades predominantemente aeróbicas não são as mais recomendadas, e
sim aquelas que trabalham com o ganho de força e massa muscular. Para
pacientes com bulimia nervosa, um programa de atividade física deve conter
exercícios aeróbicos e resistidos. O objetivo é mostrar ao paciente que o
exercício é uma forma eficaz de controlar o peso corporal de maneira saudável,
contribuindo para a formação positiva da imagem corporal e melhorando os
sintomas depressivos e ansiosos.
Os exercícios
resistidos (de força) geralmente são escolhidos para integrarem um programa de
reabilitação física em virtude de seus benefícios fisiológicos e psicológicos,
que apenas o exercício aeróbico não seria capaz de produzir. Poehlman et
al.49 relatam que o treinamento resistido, quando comparado
ao exercício aeróbico, apresenta gasto energético moderado, enquanto contribui
para o aumento da força muscular e, consequentemente, o aumento da massa magra,
além de contribuir para a preservação da perda de massa óssea, o que ajuda na
prevenção de doenças como osteoporose.
Então é isso galera!
Até o próximo post :D
Referências:
- http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol36/n4/145.htm
- http://www.einstein.br/blog/Paginas/post.aspxpost=1488
- http://iplugados.iportais.com/cultura43.html